São quatro as cidades que foram capitais das antigas dinastias reinantes do Marrocos e que são chamadas de as Cidades Medievais até hoje:
- Fès — fundada pelo sultão Moulay Idriss I em 789;
- Marrakesh — fundada pelo sultão Almorávida Abu Bakr Ibn Omar em 1062;
- Rabat — fundada pelo sultão ou califa almóada Abd al-Mu’min em 1150;
- Meknès — fundada pelo sultão alauita Moulay Ismail em 1672.
Para entender meu roteiro pelo Marrocos, leia Marrocos – Dicas Gerais e Roteiro (Post1). Esse é o post 3. Aqui vou falar sobre Fès, Marrakesh e Meknès, pois já falei sobre Rabat no post 2.
FÈS:
A cidade é confusa, a estação de trem é longe da medina e eu nunca encontraria o Riad se a dona não tivesse ido nos buscar no estacionamento do taxi, de onde fomos a pé. Sem falar que o lugar chegando à noitinha foi amedrontador. O grand taxi até lá eu havia contratado com o próprio Riad por 70,00 MAD, por email. Não se assuste, não há perigos no Marrocos, só cuidar com pickpocket, porque assalto a mão armada como no Brasil, não existe.
Nossas malas saíram do grand taxi e apareceram no Riad, eu suponho que tenham ido de carrinho de mão ou de burrico (coitadinho!).
Fès é a antiga capital do Marrocos, fundada por Moulay Idriss, mas que no século 17, Moulay Ismail transferiu para Meknès. É também a mais antiga das cidades imperiais e dizem ser a cidade islâmica mais completa do mundo árabe. E ainda tem duas medinas: Fes el-Bali e Fes el-Jedid.
Dica de hospedagem: foram dois pernoites no Riad Dar Melody, de um casal de franceses muito gente boa e um café da manhã espetacular. Para fazer sua reserva sem custo adicional clique em Booking.com se preferir pode fazer reserva pelo Hoteis.com.
Quantos dias: Fès pode ser explorada em 3 dias com calma.
Dica de restaurante: ZOHRA – indicado pelos franceses donos do Riad. Comemos o pior tajine de frango da viagem (200,00 MAD pra 2), mas o cuscus com canela foi o melhor da vida. Eis os contrastes que só o Marrocos nos proporciona. O atendente se esforçou bastante explicando a comida, super simpático, e nós éramos os únicos clientes presentes.
O que visitar:
Medinas: são duas em Fès, com vários bairros. Infelizmente o mapa que a mulher do Riad nos deu não foi de grande ajuda. Conseguimos encontrar pouca coisa. O descobrimento foi se dando na medida em que estávamos completamente perdidos e a intuição era nossa bússola. Super tranquilo quanto à segurança. Andar com câmera, mapa e pedir informação apenas desperta aqueles que querem vender o serviço de guia. E são muitos! Andamos totalmente sem rumo…
1) Fes El Bali: tombada como Patrimônio da humanidade tem um labirinto de ruelas estreitas que no princípio nos confunde, mas é capaz de nos proporcionar muitas surpresas.Toda muralhada, a entrada principal é a Bab Boujeloud. Nessa medina, você pode ver os principais pontos de interesse em Fès:
- Souk el-Attarine: é o mercado das especiarias e tem os produtos mais refinados, como sedas e joias.
- Souk Sebbaghin: o souk dos tintureiros e talvez o mais famoso de Fès. Do lado estão os curtumes e o cheiro é forte. Você somente vai conseguir avistá-lo se chegar em alguma varanda e nós somente conseguimos ir nesse lugar porque um homem desses que se oferece na rua para guiar nos levou (pagamos, claro). É uma imensa loja, mas com entrada escondida, acho que eu não saberia ir lá de novo sozinha. O mesmo homem depois nos levou numa espécie de farmácia que produz cosméticos a base de óleo de argan e ali assistimos a uma palestra muito interessante, provamos e compramos cremes. Depois, ele nos levou num restaurante vazio, tão vazio que nem o garçom veio atender.
- Cherratin Medersa: dizem que esta antiga escola do Corão é muito difícil de ser encontrada, mas foi a primeira que achamos. Na verdade eu estava procurando a Bou Inania e achei que a tinha encontrado…
- Medersa Bou Inania: do século 14 e construída pelo sultão Abou Inan, é o edifício religioso mais importante de Fès. Acabei não indo, porque achei que era a que já tinha visitado antes. Aliás, é tanta medersa e mesquita que a gente acaba se confundindo, ainda mais naquele emaranhado de ruelas.
- Kairaouine Mosque: do século 9, era a maior do Marrocos até a inauguração da Mesquita Hassan II de Casablanca. Foi engraçado porque como não nos deixaram entrar por não sermos muçulmanos, o homem que cuidava da entrada pediu minha câmera e foi lá dentro fotografar. Então essas fotos são dele (rs!).
- Place Nejjarine: onde tem o mausoléu de MoulayIdriss II, mas não é permitida a entrada. A fonte Nejjarine também fica nessa praça.
- Medersa al-Attarine: do século 14, é possível visitar, mas nos perdemos feio e a estou procurando até hoje…
2) Fes el Jedid: é a outra medina, mas que andando de uma pra outra nem percebi quando terminou uma e começou a outra. Aqui fica o Palácio Real que é fechado ao público. O Mellah é o bairro judeu, com sinagogas e alguns souks cheios de roupas e tecidos. Achei esse lado menos turístico.
3) Jardim Jnane Sbil: ideal para um momento de descanso, é um belo jardim com um lago e ambiente tranquilo, até que um rapaz chegou falando pelos cotovelos quebrou o silêncio.
4) Day tour Volubilis, Moulay Idriss, Meknès (400,00 MAD por pessoa, pelo carro com o guia – o mesmo taxista que nos pegou na estação de trem no dia anterior): gente, vou dar a minha opinião, tá? Achei que não valeu a pena a correria, é longe de Fès… é super cansativo ir a voltar e com um guia que nem saiu do carro uma única vez e que se restringia a responder às nossas perguntas. Na verdade, ele foi apenas taxista, não guia. Bom… pra quem conhece as ruínas romanas de Roma, passou por várias medinas em tantas cidades no Marrocos, acho que esse day tour foi mais cansativo que caminhar os 20km em Rabat.
5) Volubilis é a ruína romana mais importante do Marrocos, dos séculos 2 e 3. A decadência de Volubilis se deu com a fundação da capital em Fès por Moulay Idriss. Todo o mármore da cidade foi saqueado para outro povoado chamado Meknès, que viria a ser capital. A entrada no sitio arqueológico custa 10,00 MAD por pessoa, o banheiro sujo custa uma gorjeta qualquer, onde o rapaz te entrega um pedaço de papel higiênico com as próprias mãos limpíssimas (arg!). É totalmente aberto, não tem sombra e se chover não tem pra onde correr.
6) Moulay Idriss, que leva o nome de seu fundador, está a 30km de Meknès. Dizem que 5 peregrinações para cá é o equivalente a uma para Meca. Eu não gostei muito do lugar porque os locais não me deixavam caminhar em paz, aqui fomos seguidos por alguém que não sei se era guia ou o quê. Na mesquita não pudemos entrar porque não somos muçulmanos, nem na tumba de Moulay Idriss.
MEKNÈS
Meknès foi o melhor dessas três cidades, fundada no século 10 e Patrimônio da Humanidade, tem uma muralha e as suas portas são bem bonitas. Moulay Ismail construiu aqui palácios, mesquitas e muitos muros usando o mármore saqueado de Volubilis. Depois de sua morte a cidade entrou em decadência. Entramos no mausoléu de Moulay Ismail (5,00 MAD por pessoa) e o restante estava tudo fechado porque era sexta-feira, mas só assim pudemos andar pela medina sem muito assédio.
MARRAKESH:
Cidade vibrante, muito procurada por europeus, repleta de entretenimento, cores e sons. Achei seguro, mas sempre tenha cuidado com os furtos, fique de olho nos seus pertences , porque é muita gente mesmo! Muita gente pedindo dinheiro, oferecendo serviços de guia, de tatuagem, de restaurantes, de lojas… é muita coisa acontecendo ao seu redor ao mesmo tempo e isso pode deixá-lo um pouco atordoado. Pesquise bastante antes de comprar souvenir e pechinche sempre.
Dica de hospedagem: fiquei 4 noites no Riad Andalla e achei muito bom. Tem café da manhã e uma localização ótima. Chegando na rodoviária em Marrakesh, pegamos um taxi (30,00 MAD) até a praça Djemaa El-Fna. Com as indicações que o dono do Riad Andalla nos falou, chegamos fácil, apenas uma vez tivemos que pedir informação. Da medina até o aeroporto o táxi saiu por 100,00 MAD. Para fazer sua reserva sem custo adicional clique em Booking.com se preferir pode fazer reserva pelo Hoteis.com.
Quantos dias: 4 dias inteiros deu pra fazer muita coisa e visitei todos os principais pontos da cidade.
O que visitar:
1)Djemaa El-Fna: com certeza é a praça mais famosa e movimentada de Marrakesh e do Marrocos, fica bem na entrada da medina e é Patrimônio Imaterial da Humanidade.Concentra turistas do mundo inteiro, artistas de rua, encantadores de serpentes e de macacos, vendedores dos famosos sucos de laranja, leitores de cartas, muitos restaurantes, tatuagens de hena, lustres e outras quinquilharias. A melhor coisa é circular pela praça DjemaaEl-Fna sentindo seus aromas, seu barulho, observando a sua gente, sobretudo ao entardecer. Tomar o famoso suco de laranja nas banquinhas da praça é típico, mas nunca beba antes de negociar o preço!!! Melhor levar dinheiro trocado.
2)Medina: você pode passar um dia inteiro andando pelos diferentes souks, sem guia nem mapas… fiz isso e foi ótimo. A intuição continuou sendo nossa bússola. E ela funcionou!!! Cada esquina, uma surpresa. Locais de interesse dentro da medina:
- os souks de todos os estilos: souk Smarine (tecidos, antiguidades e tapetes); souk des teinturies (tintureiros); souk Chouari (carpinteiros); Rahba Qedima (especiarias e farmácias naturais) e onde tem o famoso Café Épices; entre tantos outros souks que você vai andando e descobrindo sem se ater aos nomes…
- Musée de Marrakesh (12,00 MAD por pessoa): era um palácio do século 19 em estilo árabe-mouro e usado como escola por muitos anos. Hoje abriga uma galeria de arte e o prédio é muito bonito.
- Medersa Ben Youssef: foi a maior escola corânica (do Corão) do Marrocos. Construída no século 12, apresenta uma arquitetura moura, repleta de mosaicos e entalhes de cedro. Lindíssimo. Aqui pode entrar de sapatos, mas as roupas devem ser discretas e é permitido fotografar.
- Mellah – bairro judeu, cheio de souks.
- Palais el-Bahia (10,00 MAD por pessoa): era um palácio real do século 19. Tem visitas guiadas, mas se preferir pode andar livremente pelo jardim e algumas salas com tetos lindamente esculpidos.
- Palais el-Badi: palácio do sultão Ahmed el-Mansour no século 16. É onde se realiza o Festival Internacional de Cinema em setembro, mas eu não fui neste local.
- Mesquita Koutoubia: fica na entrada da medina e você verá um minarete de 70m de altura e um belo jardim, ótimo para caminhadas de final de tarde. Foi construída no século 12 pelo sultão Yacoub el-Mansour e diz a lenta que as três esferas douradas no topo foram feitas com o ouro fundido das joias de uma mulher do sultão, castigada por comer três uvas durante o ramadã.
- Tumbas Saadianas (10,00 MAD por pessoa): tentei me guiar pelo mapa para encontrá-las, mas desistimos e foi aí que conseguimos encontrar (rs!). Tumbeaux Saadianas é um monumento simples do século 16, mas interessante, onde os reis saadianos foram enterrados.
3)Jardins de la Menara: fomos andando desde a medina (loucos!), é longe. É um parque enorme cercado por bosques de oliveiras e com um reservatório. Achei sem atrativos que valessem aquela caminhada toda, sem sombra alguma.
4)Jardim Majorelle: também fomos caminhando (mais loucos!) e valeu a pena (50,00 MAD por pessoa), é muito bem cuidado. Esse jardim foi construído pelo pintor francês Jacques Majorelle e após a sua morte, foi comprado pelo estilista Yves Saint-Laurent, que está aqui enterrado. Tem também um pequeno museu com pinturas.
Ali perto fizemos compras num supermercado chamado Acima, que fica no subsolo de um prédio, e que gerou certa confusão na hora de encontrá-lo (rs!).
5) Guéliz: bairro fora da medina e coração da cidade nova (Ville Nouvelle), tem lojas mais sofisticadas, restaurantes, bares e cafés com mesas externas, redes de alimentação e algumas lojinhas de souvenir no Ensemble Artisanal com preços mais em conta que na medina, pois foi mais fácil negociar e não havia muito movimento de turistas por aqui.
Dicas de onde comer:
- Aqua: pizzaria (105,00 MAD pra 2), bem próximo ao Riad.
- Café Noria (100,00 MAD pra 2).
- Café Árabe (200,00 MAD pra 2): boa comida italiana.
- 7saints: cuscus maravilhoso (110,00 MAD pra 2).
Importante : Dica de como se guiar na medina: há alguns sinais que indicam que você está no caminho certo para alguma mesquita ou medersa ou portão de entrada… são sinalizados pela estrela abaixo, que se você tiver olho bom de encontrá-las, pode ajudar um pouco.
No último post contarei tudo sobre o Deserto do Saara.
Posts Relacionados ao roteiro do Marrocos :
Post 1 – Marrocos – Dicas Gerais e Roteiro
Post 3 – Fès, Marrakesh e Meknès
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Olá! Adorei as dicas!
Eu vi que nas fotos vcs estão bastantes agasalhados? Faz frio lá? Em que época vcs foram? Ah! Gostaria de saber também como é a primeira classe dos trens, pois estou pensando em passar a minha lua de Mel em Marrocos e gostaria de fazer Marrakech a Casablanca de Trem.
Obrigada,
Camila
Oi Camila, que bom que gostou!
Quando fui sim estava bem friozinho, as noites eram mais frias principalmente no deserto. Como era dezembro, já estava começando o inverno.
Não fiz o trecho Marrakesh-Casablanca. Andei de trem de Casablanca a Rabat e de Rabat a Fes, ambos em segunda classe e foi tranquilo. O segundo trecho estava mais cheio e na cabine para 6 pessoas não há privacidade nem pra falar ao telefone, todos estavam sentados frente a frente, hehehe.
Não andei de primeira classe, mas achei satisfatória a segunda, mas como você vai de lua de mel, acredito que vai querer uma coisa melhor, né?
Beijos!!!
Oi Juli..achei ótima a sua página tudo de bom…eu fiz o trecho casablanca _marrakesh..leva 5 horas e viajei pela primeira classe..n tem diferença nenhuma ..a única é q vc tem numeração certa ..cabines cabem tb 6 pessoas sentados frente a frente.
Vale a pena depois vc ir p tanjier ou tanja como eles chama ela..é encantadora visitei varios lugares lindos la..tem até uma xaverna maravilhosa…vc consegue ver a espanha fo outro lado …cidade lindaaa…
Foi tb p chafshawen a cidade azul..foi de ônibus levou quase 5 horas …ficamos um dia e meio n deu p ficar mais..
Parabéms mais uma vez!!
Oi Rana,
obrigada pela mensagem e pelas dicas!
Bom saber isso sobre a primeira classe 😉
Morrocos é exótico, né?!
Beijos e boa semana.
Fantástico. No total, quantos dias devo me programar para ficar no Marrocos?
Olá Fabio,
quanto tempo ficar no Marrocos depende de várias coisas… por exemplo, que tempo você tem disponível, que cidades você quer conhecer, o que você quer conhecer em cada cidade, quanto $$ está disposto a gastar.
Então, o que você quer ver no Marrocos?
Adorei as dicas!
Em relação aos trens, o que pode nos dizer? Vale a pena? Custo médio? São confiáveis como os da Europa ou é meio salve-se quem puder? kkk
Estou pensando em passar seis dias no Marrocos(Fez, Casablanca e Marrakech). Já dá para ter uma ideia geral? Muito obrigado
Oi Rodrigo,
não achei que os trens no Marrocos fossem do tipo salvem-se quem puder. Achei bem tranquilo.
Quanto a preços, dê uma olhada no site dos trens https://www.oncf.ma para informações atualizadas de valores.
Sim, 6 dias dá pra ter uma ideia geral.
😉
Ola Juliana. Linda viagem! É perigoso passar pela Medina a noite?